quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Bicho Papão Tucano

Eu tirei o título de eleitor em 1989, ao 17 anos. E a musiquinha "meu primeiro voto pra fazer brilhar nossa estrela" cantei aos berros em inúmeras ocasiões. Eu era militante num tempo em que militante era um xingamento. Uma classificação feia como bater na mãe. Num tempo que militante do PT era aquele cara de pé na terra, que ouvia os movimentos sociais. Esquece. Num tempo que militante do PT ERAM os movimentos sociais. 

Eu chorei naquele debate com o Collor. E militei de novo, nas derrotas pra FHC. Com aquela sensação de quase. De acreditar que a gente tinha um projeto de país, de nação. De fazer algo de verdade. COM O POVO. Com os movimentos sociais. Com aquela gente, EU, que não tinha sido ouvida por tanto tempo nesse país.

Mulher, pobre, filha de uma baiana fugida do semi-árido, lésbica, eu via no PT a representação dessas lutas. Eu vi com desconfiança as alianças. MAS ERA EM NOME DE UM PROJETO DE GOVERNO. Era em nome desse bem maior. Das milhões de bocas famintas, dos excluídos. E a gente cede. E acha que é só um pouquinho. Só um Magno. Só um PR. Só um Sarney (ai como esse doeu). Porque o projeto é maior que isso.

E eu vi muita coisa acontecer. Eu vi sim muita coisa mudar. Mas vi, infelizmente, que o ceder ficou cada vez maior. Se com Lula no poder eu posso listar uma série de coisas que PODIAM TER SIDO MELHORES, nesse último ano eu posso listar uma série de coisas que NÃO PODIAM TER SIDO PIORES. Existem bandeiras históricas, tatuadas na pele de quem realmente fundou e deu sangue por esse partido que foram absolutamente esquecidas nesse governo. Ouvir a base, os movimentos sociais, a defesa de minorias, a luta pelos direitos reprodutivos das mulheres, a gestão participativa...cadê?

Eu lembro que na época das campanhas contra Collor e FHC o MAIOR argumento a favor deles era o medo do petismo. Não era se FHC podia fazer algo pelo país, mas tudo de ruim que Lula podia fazer. Não se discutiam as ideias e projetos do PT, mas a agenda que FHC jurava que era a nossa. Hoje, eu vejo militantes petistas usando o mesmo argumento. Algo vai mal? SERIA PIOR COM TUCANOS. Como se isso bastasse. Como se PSDB e FHC fossem algum bicho papão mitológico pra assustar criancinhas em comer toda a comida. Inclusive o quiabo horroroso e babendo da teocracia que invade o governo. Engulam Malafaia, Bolsonaro, Magno Malta, Sarney, veto ao kit antihomofobia, propaganda de opção sexual e cadastro de grávidas. COMAM TUDO OU O BICHO PAPÃO TUCANO VAI COMER VOCÊS.


Não dá. Nunca consegui comer quiabo. Não quero que a maior realização do governo Dilma seja ter impedido José Serra de governar. Não posso engolir um governo que cede a chantagem de Garotinho e veta kit de "propaganda de opção sexual". Não posso engolir cadastro de grávidas a troco de 50 contos. Não consigo ver LGBTs rifados e Ministra da Casa Civil tirando foto e convidando homofóbico pra palestrar em evento. Não posso ignorar líder do governo defendendo empresa que derrama óleo. Não tem Privataria Tucana que me faça cega ao óbvio caminho do PT em direção ao pragmatismo político assistencialista do toma lá dá cá. Não quero SUS financiando antros de tortura cristã a troco de apoio no Congresso. Me venderam a ideia de um PROJETO DE GOVERNO. E estão me fazendo comer um PROJETO DE PODER.

Eu comecei esse ano como militante e filiada. Em setembro, após mais desmandos do que consigo listar sem cansar, pedi minha desfiliação. E fiquei apenas como torcedora desconfiada. Termino o ano além da desconfiança. Em conflito com um governo que eu ajudei a eleger e em quem já não me reconheço.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O julgamento da vítima

Já se falou até demais sobre a falácia da falsa escolha. O texto do @_lasher_ explica tim-tim por tim-tim. Então vou pular a parte em que explico porque defender animais não exclui se preocupar com direitos lgbts, a fome no mundo ou a enchente nas Filipinas. Vamos ao lado mais espinhoso desse assunto. E que provavelmente muita gente não vai gostar.

Cachorros não são gente. E eu não quero dizer que, por não serem gente mereçam menos importância. O que acontece, e dá a sensação contrária em casos como esse, é que cachorros não dividem a população segundo suas crenças religiosas e/ou sociais. Deixa eu trocar em míudos. Quando um cachorro, de preferência fofinho, morre espancado a população não "precisa" passar esse acontecimento por um filtro que diz se a vítima merecia ou não o que lhe aconteceu. Ela não precisa consultar velhos preconceitos para dizer que o cachorro procurou o que lhe aconteceu ou que se ele ficasse quieto e no "lugar dele" nada disso teria acontecido.

Quando morre um homem negro, pobre, em confronto com a polícia por exemplo, essa mesma sociedade passa tal morte pelo crivo social "preto, pobre, de comunidade = possível bandido". E como possível bandido sua morte, ainda que possa ser escabrosa, passa a ser possivelmente justificada. Do mesmo jeito que anos atrás ( e até hoje em alguns casos) adultério era atenuante para crimes e mulheres assassinadas nessas condições não eram dignas da revolta popular.

Talvez o lado mais cruel dessa recente indgnação e quase histeria popular em torno da morte do cão é perceber que humanos tem como parâmetro de revolta a "qualidade da vítima" e não a maldade intrínseca do agressor. Um mesmo crime pode ser mais ou menos cruel e digno de mobilização popular em proporção direta ao que essa mesma população julga como vítima inocente (existiriam vítimas não inocentes e ainda assim vítimas?).

Seriam assim, menos dignos de atenção, crimes que ainda que tão cruéis e violentos tivessem por vítima alguém que não ajustasse no modelo de vítima inocente: prostitutas espancadas, menores infratores assassinados, presidiários queimados vivos, mulheres adúlteras, LGBTS... Argumento recorrente de Bolsonaros e Magnos Maltas da vida é que não existe homofobia, os gays é que procuram situações perigosos ou frequentam lugares violentos.

Não há nada de errado com se revoltar com a agressão injusta e cruel contra um animal indefeso. Errado é querer dividir vítimas entre dignas ou não da sua revolta.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mentiras em nome de Deus?

Resposta ao texto de Marisa Lobo, psicóloga e cristã segundo ela mesma, que fala sobre o Estatuto da Diversidade Sexual, criando pânico infundado na sociedade com MENTIRAS E DISSIMULAÇÕES.
O texto pode ser lido AQUI



Cara Marisa, psicóloga cristã

Você mente tanto que é difícil até começar a responder, mas vou fazer algumas tentativas.

Você diz que o artigo 19 do estatuto da diversidade permitiria casamento gay pedófilo ou poligâmo. Vamos aos fatos:

Art. 19 - Serão reconhecidos no Brasil os casamentos, uniões civis e estáveis realizados em países estrangeiros, desde que cumpridas as formalidades exigidas pela lei do País onde foi celebrado o ato ou constituído o fato.

O art 19 reconhece o casamento LEGAL realizado em outro país. Me diga em que país a pedofilia ou o casamento gay poligâmico é legal? O casamento hétero poligâmico é legal em vários países, mas nenhum deles permite o casamento gay


Você alega que o artigo 25 cria a licença natalidade gay especial, dando 180 dias de licença ao pai gay e só 5 ao pai hétero (que denominação absurda)

Art. 25 - É assegurada licença-natalidade a qualquer dos pais, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e oitenta dias.
§ 2º - O período subsequente será gozado por qualquer deles, de forma não cumulada.


O art 25 trata da adoção de um bebê. Se um casal gay adota um bebê UM dos pais terá direito a licença natalidade o outro permanece trabalhando. Assim como se um casal hétero adota um bebê a mãe terá direito a MESMA LICENÇA POR IGUAL PERÍODO enquanto o pai continua trabalhando. Absurda é a situação atual.



Você afirma que será obrigada a retirar o NOME da sua mãe e do seu pai da sua carteira de identidade. Vamos novamente aos fatos:

Art. 32 - Nos registros de nascimento e em todos os demais documentos identificatórios, tais como carteira de identidade, título de eleitor, passaporte, carteira de habilitação, não haverá menção às expressões “pai” e “mãe”, que devem ser substituídas por “filiação”

O artigo 32 retira os termos PAI e MÃE e substitui por FILIAÇÃO. O nome da sua mãe e seu pai permanecem no mesmo lugar. Apenas o qualificativo MÃE e PAI é que é retirado. Crianças filhas de mães únicas deixam de ter o constrangimento de ter **** no lugar do nome do pai.



Na tentativa de criar histeria por parte de pais, afirma que crianças de 14 anos serão transformadas em travestis com tratamento hormonal segundo o artigo 37. Mas não coloca o artigo nem comenta sobre o artigo 38 que fala que a cirurgia de redesignação sexual só pode ser feita a partir dos 18 anos.

Art. 37 - Havendo indicação terapêutica por equipe médica e multidisciplinar de hormonoterapia e de procedimentos complementares não-cirúrgicos, a adequação à identidade de gênero poderá iniciar-se a partir dos 14 anos de idade.

Aqui você demonstra má fé ou absoluto desconhecimento de matéria específica da sua profissão. O artigo fala em "indicação terapêutica por equipe médica e multidisciplinar" o que inclui pelo menos 2 médicos e psiquiatras que diagnostiquem o Transtorno de identidade de gênero. O tratamento e a cirurgia, que você preconceituosamente trata de mutilação genital é recomendade pela Organização Mundial de Saúde e por psiquiatras especialistas em transtorno de gênero.


Quanto ao pagamento por parte do SUS de cirurgias de redesignação sexual ele já é garantido atualmente por portaria do Ministério de Saúde. O Estatuto só regulamenta. Você parece ignorar que tal cirurgia é recomendada em casos específicos para diminuir o intenso sofrimento emocional sofrido por cidadãos transexuais. Que pagam os mesmos impostos que você parece não ter problemas se usados para fazer parques gospel pelo Brasil.


Os artigos 59 a 65 tratam da educação para a diversidade. Não existe menção a nenhum kit de qualquer coisa. Existe sim no artigo 61 a orientação de que escolas não adotem material que favoreça discriminação. No artigo 62 não proíbe festas do dias dos pais ou das mães, ainda que estes tenham se tornado apenas datas comerciais, mas sugere que elas adotem medidas para contemplar os "novos arranjos familiares". Uma criança orfã ou criada pela avó ou pelos tios se beneficiará grandemente dessas novas medidas

Art. 62 - Ao programarem atividades escolares referentes a datas comemorativas, as escolas devem atentar à multiplicidade de formações familiares, de modo a evitar qualquer constrangimento dos alunos filhos de famílias homoafetivas.

A senhora alega que o artigo 71 cria cursos de prostituição. A senhora leu o Estatuto? Por que se leu das duas uma, ou não sabe interpretar ou acredita que lésbicas, gays e transexuais só servem para trabalhar como prostitutas. Eis o texto do artigo 71:

Art. 71 - O poder público adotará programas de formação profissional, de emprego e de geração de renda voltadas a homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transexuais e intersexuais, para assegurar a igualdade de oportunidades na inserção no mercado de trabalho.

ONDE ESTÁ O CURSO PARA FORMAÇÃO DE PROSTITUTAS DONA MARISA LOBO?

A senhora diz que o artigo 73 cria a cota gay. Mas o que diz o texto na verdade?

Art. 73 - A administração pública assegurará IGUALDADE DE OPORTUNIDADES no mercado de trabalho a travestis e transexuais, transgêneros e intersexuais, atentando ao princípio da proporcionalidade.

A senhora diz que será criada cela gay como regalia. Dona Marisa, a senhora sabe o que acontece a gays na cadeia? A senhora defende estupros coletivos como forma de ressocialização? Leia o texto dona Marisa! Identidade sexual significa assegurar que transexuais presos sejam preos em cadeias de acordo com sua identidade de gênero. Ou como a senhora acha que um travesti, transexual é tratado em presídios masculinos?

Art. 86 - O encarceramento no sistema prisional deve atender à identidade sexual do preso, ao qual deve ser assegurada cela separada SE HOUVER RISCO à sua integridade física ou psíquica.

 Art. 88 - O Estado deve implementar políticas públicas de capacitação e qualificação dos policiais civis e militares e dos agentes penitenciários, para evitar discriminação motivada por orientação sexual ou identidade de gênero

Polícia gay, dona Marisa? ONDE a senhora leu isso? O artigo 88 não cria nenhuma polícia especial. E pare de falar essa besteira de pessoas em equilibrio biológico de gênero. ESSE CONCEITO NÃO EXISTE NA PSICOLOGIA.


Os artigos 92 a 94 não proíbem nem pastores nem padres, nem pais de santo de falar qualquer coisa. Aliás eles nem citam qualquer uma dessas categorias, mas se a senhora está falando em pregações que desrespeitem a integridade física e psicológica e incitem a intolerância, aí sim estamos falando dos mesmos artigos.

Art. 92 - É assegurado respeito aos homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e intersexuais, de modo a terem preservadas a integridade física e psíquica, em todos os meios de comunicação de massa, como rádio, televisão, peças publicitárias, internet e redes sociais.
Art. 93 - Os meios de comunicação não podem fazer qualquer referência de caráter preconceituoso ou discriminatório em face da orientação sexual ou identidade de gênero.
Art. 94 - Constitui prática discriminatória publicar, exibir a público, qualquer aviso sinal, símbolo ou emblema que incite à intolerância.



Incitar a intolerância e desrespeitar a dignidade de um cidadão é crime.


Artigo 44 inciso III. Cara psicóloga a senhora faltou as aulas sobre transtorno de identidade de gênero? Para que uma criança e adolescente tenha direito ao registro do nome de acordo com sua identidade de gênero ela precisará ter um DIAGNÓSTICO MULTIDISCIPLINAR. E que desrespeito a dor e sofrimento dessas crianças e adolescentes a senhora faz ao sugerir que sejam chamadas de Juju Bibinha.


A senhora diz que é preciso ter pelo menos coragem de "ler e analisar esses estatuto gay". A senhora o leu? Por que se o leu e escreveu esse texto, cheio de mentiras, omissões, dissimulações e histeria então comete um crime. 




ÍNTEGRA DO ESTATUTO DA DIVERSIDADE SEXUAL


Alessandra Mascarenhas
Psicóloga Clínica e Psicopedagoga

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

É proibido ser gordo?

Eu sou gorda. Seja por padrões Gisele Bündchen de ser, seja pelo maldito IMC que vive dizendo que eu devia ter uns 10cm a mais na altura. E fui gorda a vida inteira, um bebê gordinho, uma criança bochechuda e uma adolescente cheinha. E parece que isso é algum crime capital, sujeito a humilhação pública e condenação eterna ao inferno das roupas de marca que não passam do número 40.

Não estou falando dos males da obesidade mórbida ou mesmo de doenças associadas ou de comedores compulsivos, mas de alguém que veste tamanho 46. Minha saúde é perfeita, não tenho problemas de pressão, nem de diabetes, colesterol, não me alimento de fast food, não tenho problemas cardíacos. Tenho o mesmo peso há mais de 20 anos e ele não oscila mais do que 3kg pra baixo ou pra cima, dependendo do meu humor. Não sou e nem me sinto doente. A sociedade parece discordar de mim.

É como se o fato de eu ser gorda fosse uma espécie de atestado público de desleixo. Um desafio ao status quo. Uma afronta as revistas de moda e aos médicos. Semana passada escutei de um dermatologista que deveria emagrecer. Isso porque eu fui tratar de um problema de caspa. CASPA! Isso é consequência da obesidade aonde? Perguntei a ele porque. E ele veio com aquele discurso já prontinho de diabetes, colesterol.... Só que eu não tenho nenhum desses problemas!

Eu pedalo 6km, cinco vezes por semana. Não bebo refrigerantes, nem alccol, não fumo e meu consumo de carnes vermelhas e gordura é quase inexistente. Não sou devoradora de doces. Só me recuso a passar uma vida inteira em uma dieta de 1200 calorias, morrendo de fome para caber numa calça tamanho 38. PRA QUE? No que isso vai me tornar mais saudável?

Não estou fazendo apologia a obesidade. Nem digo que quem se sente mal com 10kg a mais do que a Nova diz ser ideal não deva fazer regime. Se você se sente mal com qualquer coisa então vai lá e tenta mudar. Mas eu estou bem assim. Eu não quero comer alface em doses industriais para entrar numa loja e pedir tamanho P. Se amanhã eu mudar de ideia ok. Até lá, não lembro de ser gordo ter virado crime.

*Pra quem ficou curioso, eu tenho 1,64cm e peso 74kg segundo a balança do meu banheiro hoje de manhã.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Heterossexuais e o Equilíbrio Biológico de Gênero

Marisa Lobo se define como psicologa cristã e é membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos. O simples fato de alguém, em qualquer profissão manifestar-se como membro ou fiel de uma religião não significa absolutamente nada. Nem a favor e muito menos contra. A liberdade de culto religioso é garantida pela Constituição e não exclui aqueles que apresentam formação superior. O perigo é quando um religioso se dispõe a falar em nome de uma pseudo doutrina-científico-religiosa.

Marisa Lobo tornou pública e portanto passível de críticas, uma carta ao Deputado e Pastor Marco Feliciano, onde pede providências sobre uma suposta violação do Código de Ética pelo Conselho Federal de Psicologia ao participar de uma manifestação contra a suspensão do programa Escola sem Homofobia, erroneamente chamado por ela de “kit-gay”. Alega Marisa que o CFP teria agido contra o artigo 2º do Código que diz que:

Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:

b. Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais


O que a nobre colega não parece perceber é que ao propor uma psicologia cristã quem infringe o item b do artigo 2ª do Código de Ética é a senhora. Uma psicóloga pode ser evangélica, católica ou umbandista, assim como um médico ou um físico. O que nenhum deles pode é propor a existência de um corpo teórico ou de uma prática de física hinduísta, de uma medicina umbandista ou de uma psicologia cristã. Faltam a tais “ciências” corpo teórico e metodologia científica que o simples bom senso pode demonstrar.

Além disso, demonstra desconhecer ou falsear a resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia, que seguindo orientação da Associação Americana de Psiquiatria e da Organização Mundial de Saúde proíbe a potologização e o tratamento da orientação sexual homoafetiva. Tal resolução em seu artigo 2º diz:

Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.

O CFP ao defender projeto que visa combater a discriminação e o bullying homofóbicos tão presentes em nossas escolas, age no estrito cumprimento das suas funções de usar o conhecimento psicológico para desmistificar e colaborar com o fim do preconceito.

Por fim Marisa Lobo, faz a seguinte afirmação em sua carta:

Pois como estão tratando a questão do homossexualismo, daqui a pouco vamos nós que temos nossa sexualidade em equilíbrio biológico de genro(sic) achar que somos nós os errados.
A frase tem tantos absurdos conceituais que eu quero acreditar tratar-se de simples confusão de uma pessoa levada por emoção. Mistura-se na frase as noções de orientação sexual e identidade de gênero, reduz gênero a simples determinismo biológico, ignorando fortes correntes de pensamento que mostram tratar-se o mesmo de uma construção muito mais social e assume-se como CERTO uma orientação sexual em flagrante oposição a moderna psicologia.

Quero crer que ao falar em equilíbrio biológico de gênero a colega se refira a situação denominada de Disforia de Gênero ou Transtorno de Identidade de Gênero. A classificação atual (e vale frisar ATUAL) considera a Disforia de Gênero a partir do binário determinista macho/fêmea. Traduzindo em termos menos técnicos, o transtorno existe quando a genitália não corresponde ao gênero com o qual a pessoa se identifica. Tal identidade, mas que biológica, tem a ver com sentimentos, atitudes e papel social. Nesse contexto não cabe um “equilibrio de gênero biológico” a heterossexualidade. Um homem homossexual cuja identidade de gênero seja masculina está em equilíbrio biológico de gênero seja qual for o conceito que a colega quis formar.

Outra opção é que Marisa tenha se referido a Orientação Sexual Egodistônica. Novamente, egodistonia não é uma prerrogativa homossexual. E seu tratamento não é proibido pelo CFP. Alguém com Orientação Sexual Egodistônica é alguém cuja orientação sexual, seja hétero, bi ou homossexual, é rejeitada, quando seus impulsos, desejos e ideias estão em distonia com o seu ideal de si mesmo. Casos de homossexualidade egodistônica podem e devem ser tratados. A egodistonia e não a homossexualidade. As visões do eu ideal e as pressões do ego é que precisam ser melhor entendidas pelo paciente e não a sua sexualidade.

Para terminar, gostaria de lembrar que a resolução 001/99 do CFP determina que:

Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.

Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.


Respeito e bom senso não fazem mal a ninguém.

Alessandra Mascarenhas 
Psicóloga Clínica e Pedagoga

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Palavras de um velho dinossauro



Meu tio é um verdadeiro dinossauro. Delegado aposentado, eleitor de FHC, de direita por ideologia, daqueles que acreditavam no perigo vermelho do comunismo. Mas é também um homem profundamente honesto na vida pessoal. Os "colegas de repartição" hoje acumulam imóveis e carros, viagens e dólares. Ele vive da aposentadoria, que pode ser considerada ótima em padrões brasileiros, mas que só o permitiu um apartamento na zona norte do Rio de Janeiro. Suas mordomias, aos 83 anos, se resumem em andar de táxi e ter um fisioterapeuta domiciliar....que ele já acha demais.

Ele sabe que sou filiada ao PT e eleitora de Lula. Desde a minha adolescência tivemos e ainda temos longos e barulhentos papos sobre política. Ele sempre me prevenindo do perigo do comunismo e eu reclamando da ditadura e da repressão política (que ele nunca concordou, mas achava necessária para não virarmos Cuba). Hoje não foi diferente. A conversa começou com uma provocação.

"Seu deputado (Chico Alencar PSOL/RJ) foi escolhido o melhor do Brasil"
"Eu vi. Eu não te disse que era um bom voto?"
"É...ele é professor né? Eu vi algumas coisas...Esse PSOL, ele tem umas ideias meio comunistas né, mas o menino é um cara honesto. Isso ele é. E aquele outro lá, aquele que foi eleito junto com ele? O daquele programa..."
"O Jean Wyllys?"
"É. Aquele que é bicha né? Então. Garoto inteligente. Sua tia viu o programa da Marília e eu fiquei ouvindo. Tem essa coisa de direito de gay, mas ele é um garoto inteligente. Esse vai ficar. Igual o seu professor."

Meu tio não tem muita intimidade com a questão LGBT, mas é quem menos pegou no meu pé quando me assumi. Acha tudo uma perda de tempo "essa coisa de casamento gay é besteira. O Brasil tem que cuidar da educação e da saúde" E o papo engrenou no Jean Wyllys e eu dizendo que a bandeira dele não é só a causa gay, mas a defesa dos direitos humanos. "Você e essa mania de direitos humanos"

Lá pelas tantas, meu tio fala do prefeito, o Paes, que ele detesta. "Aliado do Cabral e da Dilma. Só faz graça na TV e a cidade tá um terror, nem posto de saúde funciona direito" Me pergunta quem vem candidato essa eleição "Seu professor vai vir pra prefeito? Olha que eu voto nele. Isso aqui tá precisando de alguém com moral". Digo que não sei, acho que pode ser o Freixo. "O que tava na bagunça dos bombeiros?" Eu confirmo, digo que também é do PSOL.

Ele fica um tempo em silêncio. O papo morre um pouco com a chegada da minha prima. Depois de um tempo ele volta ao assunto, dessa vez criticando Dilma. Eu brinco e pergunto se ele preferia o Serra. "Serra é um hipocondríaco. Não sei porque o Fernando Henrique escolheu essa besta". Lá pelas tantas, depois de mais algumas risadas, meu tio termina "Sabe, esse Freixo ai que você falou, aquele dos bombeiros...se ele ou o Chico vierem pra prefeito, eu vou votar. Essas ideias comunistas eu não gosto, mas o Rio tá precisando de gente honesta"

Conclusão da minha tarde com um velho dinossauro: até a direita está cansando da direita.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Não quero ser mãe



Da infância lembro das bonecas, sempre com cara de bebê,muitas fraldas, xixi e peniquinhos.
Das aulas de biologia lembro do ciclo da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer.

E daí que alguns tomaram isso a risca. Como se reproduzir não fosse uma decisão consciente, direito ou simples opção, mas obrigação biológica. Plante uma árvore, escreva um livro e tenha um filho! Perpetue-se!

E acontece que quando vcoê decide não seguir o tal ciclo natural dos seres vivos e pula a parte do colocar na mundo um pequeno legado dos seus gens, parece ter tomado uma decisão moralmente condenável. Tem que ter algo de errado com você!

Se você for mulher, além da incompreensão pela falta de instinto maternal, esse tremendo embuste que enfiaram goela abaixo de nós, será observada como potencial psicopata. Óbvio. Como ousa não querer um pirralho choroso agarrado as suas pernas? Não sabe que essa é a mais nobre missão feminina?
 
E daí que eu nunca senti esse tal instinto maternal. Nunca enfiei travesseiros embaixo da roupa ou sonhei com bebês de bochechas rosadas. Também preferia minhas Suzys [no meu tempo Barbie não era moda] e devo ter sido a única menina da escola que não pediu o Meu Bebê da Estrela como presente de Natal.

E quase sempre escuto a mesma pergunta quando digo que não quis/quero ter filhos: mas porque você não gosta de crianças?

Você não gosta de ursos polares? Planeja afogá-los em alguma poça dágua perto de casa? Acha que deviam ser mortos por caçadores? Não? Então porque nunca pensou em ter um só para você e ser responsável por alimentar, cuidar e proteger por...hum, sei lá, 25 anos?

Não odeio crianças. Trabalho com elas, acho a lógica infantil pré escolar uma das coisas mais divertidas do mundo [e profundamente racional], mas não tenho nenhum desejo de perpetuar a espécie e ser responsável por uma durante 18-25 anos. O tal instinto maternal deu #epicfail aqui.

Reprodução é um direito, não a obrigação primordial da vida humana.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Novas Diretrizes Escolares

Daí que a Dilma proibiu o Kit antihomofobia por que era "propaganda de opção sexual". e  o PLC 122 ganhou uma versão evangelicamente correta.  Legal. Afinal esse país é regido pela Sagrada Bíblia Brasileira, a Santa Carta Magna do País. Mas aí que eu percebi que tem umas falhas. Pequenas ok. Mas que contrariam o Estado Teocrátido de Direito. E como boa cidadã da República Evangélico-Talibã deste país eu conto com vocês para disciplinar nossas escolas à luz do verdadeiro conhecimento.

Algumas medidas simples podem tornar nossas escolas lugares santos, como devem ser esses espaços para a santa paz dos nossos lares de verdadeiros cristãos:

1- Adequação do Uniforme. Ora, todos nós sabemos que em Levítico 19:19 está terminantemente proibido o uso de dois ou mais tecidos numa mesma vestimenta. Então a partir desta resolução todas as escolas devem adotar uniformes feitos em algodão. Aquelas que se recusarem e continuarem usando tecidos mistos devem ser punidas na forma da lei, ou seja com apedrejamento público.

2- Nenhuma atividade, sejam aulas, avaliações, reuniões, treinamentos, festas ou comemorações podem se realizar aos sábados. A pena segundo Exôdos 35:2 é morte. Isso, claro, inclui todos aqueles que direta ou indiretamente contribuírem para o fato.

3- Adequação da merenda. Ficam proibidos: carne de porco (Levítico 11:6-8), mariscos e moluscos (Levítico 11:10), bem como qualquer grão que tenha sido plantado em campos com mais de uma cultura (Levítico 19:19). Em todos os casos o descumprimento da lei implica em apedrejamento público por toda a cidade.

4- Apesar da Sagrada Bíblia Brasileira permitir escravos (Levítico 25:44) fica acordado que, pelo bom funcionamento da escola, eles deverão permanecer do lado de fora.

5- As escolas deverão providenciar professoras substitutas para os 7 dias de impureza do ciclo menstrual das professoras titulares (Levítico 15:19-24) já que estas deverão permanecer intocadas

6- No caso de uma aluna ser vendida pelo pai como escrava (Levítico 1:9) a escola deve providenciar em até 48h seus documentos para o novo proprietário sob pena de multa.

Acreditamos que com essas medidas simples, nossos alunos estarão bem e verdadeiramente protegidos da "propagande do desenvolvimento da autonomia do pensamento" isso sim uma verdadeira praga moderna.

República Teocrática do Brasil

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quem decide se é ofensa, sou eu!


Sou bissexual. Isso não devia me definir. Tipo, eu sou alta, tenho cabelos castanhos e gosto de pizza e nada disso é uma definição de mim. Mas o fato de eu namorar homens E mulheres (nunca ao mesmo tempo que fique claro) é. Como se fosse um carimbo na minha testa: Alessandra, bissexual...qualquer outra coisa só vem depois. Se sou alta, psicóloga, torcedora do flamengo, viciada em livros ou boa cozinheira, sei lá...nada disso importa.

Eu passei da fase de me irritar com isso. Tenho 40 anos e tive 20 para me acostumar a esse tipo de comentário. Quando vejo que alguém da minhas relações sente a necessidade de colocar a etiqueta "bi" logo depois de me apresentar a alguém, eu simplesmente deixo de dar intimidade. Uma coisa no entanto eu ainda não superei. A mania que o povo tem de querer decidir o que me ofende ou não.

É o que o Sr. Rica Perrone defende. Branco, classe média, com nível superior e, acredito eu, heterossexual, o Sr. Perrone acha que pode decidir o que ofende ou não um homossexual. Xingar em estádios? Ah, parem de drama, isso não pode ofender vocês. É cultural. Deixa eu xingar de viado é direito meu. Eu nem vou entrar na questão "cultural" por que cultural é também apedrejar mulheres no Oriente e eu nem por isso acho defensável. Vou me ater só a uma questão: quem define o que ofende? O ofensor ou o ofendido?

Michael, do Volei futuro, queria viver num país em que sua natureza não fosse usada como sinônimo de agressão ou ofensa. Não interessa se é "cultural" xingar o adversário de viado, como não interessa se é cultural na Alemanha, xingar de macaco. Interessa se o xingado se sente ofendido. E Michael se sentiu. E eu me senti.

Não interessa se na turba de uma torcida as pessoas se sentem acima do bem e do mau. Quem define o que me ofende sou eu!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ídolos

Começou né? Confesso, tenho pouquíssima paciência com programa da Record. Novelas que duram anooooos, horário que ninguém cumpre, apresentador que me dá sono (Britinho, o terrível). Paciência zero mesmo. Só que acabou o BBB e eu fiquei, tipo assim, carente de olhar a vida de alguém. E tudo bem que Ídolos não é lá muito reality show, mas dá pro gasto né?

Eu sofro de VA em nível muito alto. Então eu não consigo ver essa fase eliminatória inteira. Me deixa com gastura, vontade de entrar na TV e dar uns cascusdos nesse povo sem noção, que além de passar vergonha me deixa constrangida. Mas tem sido legalzinho né?

A filha da Possi podia entender que a coisa ali é mais séria e parar de fazer caras e bocas. O Bonadio tem critérios que nem ele entende, então nem vou tentar entender né? E o Marcos Camargo? Ah o Marcos Camargo...desde que o vi no twitter não consigo mais detestar o jeito arrogante que ele tinha. Por que. oi? TUDO FACHADA. É um fofo no twitter.

Então vamos esperar a fase do teatro para ver se eu me empolga a falar dos cantores.

É hora de despertar

Bem amigo você não esta só
Existem muitos que estão afim
De tomar o seu lugar ao sol
Existem outros que não vacilam assim
Bem amigo você pego a ronda
Enquantos os outros dão duro
Você dorme a solta
Mas é hora de despertar
Pois o tempo é cruel
E insiste em passar
Nós somos todos
Totalmente iguais
Porque existem aqueles bons
Que lutam por algo mais
Vaguei muito tempo
Sem ter para onder ir
Mas achei meu caminho bom
E nele eu quero seguir
Não
Você deixou a porta aberta
Sim
Você achou o erro fácil
Erro demais é errou demais

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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