terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O julgamento da vítima

Já se falou até demais sobre a falácia da falsa escolha. O texto do @_lasher_ explica tim-tim por tim-tim. Então vou pular a parte em que explico porque defender animais não exclui se preocupar com direitos lgbts, a fome no mundo ou a enchente nas Filipinas. Vamos ao lado mais espinhoso desse assunto. E que provavelmente muita gente não vai gostar.

Cachorros não são gente. E eu não quero dizer que, por não serem gente mereçam menos importância. O que acontece, e dá a sensação contrária em casos como esse, é que cachorros não dividem a população segundo suas crenças religiosas e/ou sociais. Deixa eu trocar em míudos. Quando um cachorro, de preferência fofinho, morre espancado a população não "precisa" passar esse acontecimento por um filtro que diz se a vítima merecia ou não o que lhe aconteceu. Ela não precisa consultar velhos preconceitos para dizer que o cachorro procurou o que lhe aconteceu ou que se ele ficasse quieto e no "lugar dele" nada disso teria acontecido.

Quando morre um homem negro, pobre, em confronto com a polícia por exemplo, essa mesma sociedade passa tal morte pelo crivo social "preto, pobre, de comunidade = possível bandido". E como possível bandido sua morte, ainda que possa ser escabrosa, passa a ser possivelmente justificada. Do mesmo jeito que anos atrás ( e até hoje em alguns casos) adultério era atenuante para crimes e mulheres assassinadas nessas condições não eram dignas da revolta popular.

Talvez o lado mais cruel dessa recente indgnação e quase histeria popular em torno da morte do cão é perceber que humanos tem como parâmetro de revolta a "qualidade da vítima" e não a maldade intrínseca do agressor. Um mesmo crime pode ser mais ou menos cruel e digno de mobilização popular em proporção direta ao que essa mesma população julga como vítima inocente (existiriam vítimas não inocentes e ainda assim vítimas?).

Seriam assim, menos dignos de atenção, crimes que ainda que tão cruéis e violentos tivessem por vítima alguém que não ajustasse no modelo de vítima inocente: prostitutas espancadas, menores infratores assassinados, presidiários queimados vivos, mulheres adúlteras, LGBTS... Argumento recorrente de Bolsonaros e Magnos Maltas da vida é que não existe homofobia, os gays é que procuram situações perigosos ou frequentam lugares violentos.

Não há nada de errado com se revoltar com a agressão injusta e cruel contra um animal indefeso. Errado é querer dividir vítimas entre dignas ou não da sua revolta.

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